Recentemente, houve uma clara divisão no governo brasileiro sobre a continuidade do projeto da terceira usina nuclear do país, a Angra 3. Segundo duas fontes com conhecimento do assunto, a equipe econômica do governo tem pressionado fortemente para abandonar o projeto.
A decisão final sobre a Angra 3 está sob responsabilidade do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE). No entanto, após adiar a decisão no final do ano passado, o CNPE novamente não conseguiu chegar a uma conclusão definitiva na reunião de terça-feira. O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, afirmou que o assunto será novamente discutido na próxima reunião do CNPE, embora a data exata ainda não tenha sido marcada.
A construção da Angra 3, localizada na cidade costeira de Angra dos Reis, começou na década de 1980, mas foi interrompida várias vezes devido à falta de financiamento e a uma investigação de corrupção em 2015. Apesar de uma tentativa de reinício em 2022, o projeto acabou sendo novamente cancelado.
Esse impasse ocorre enquanto o presidente Luiz Inácio Lula da Silva busca posicionar o Brasil como um centro de investimentos verdes na América Latina. Em vários países ao redor do mundo, a energia nuclear está sendo reavaliada como uma alternativa para atender à crescente demanda por fontes de energia mais amigáveis ao clima. No entanto, no Brasil, os defensores da energia nuclear se opõem às vozes que destacam as vantagens de fontes renováveis, como eólica, solar e hidrelétrica.
“Esta é uma batalha difícil”, afirmou uma fonte anônima da equipe econômica, referindo-se ao caráter privado das discussões. Segundo a fonte, a principal razão para a oposição ao projeto é a falta de recursos financeiros. "Quem vai cortar o orçamento para dar espaço a isso?"
Apesar da divisão, o ministro de Energia, Alexandre Silveira, permanece como um dos principais defensores do projeto. Em novembro, ele declarou: "Precisamos terminar isso" e descreveu Angra 3 como um "cemitério", referindo-se ao projeto como um problema pendente que precisa ser resolvido.
De acordo com uma pesquisa do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), a conclusão da usina exigirá um investimento adicional de R$ 23 bilhões (aproximadamente US$ 4 bilhões) sobre os R$ 12 bilhões já investidos. O BNDES também estimou que abandonar o projeto geraria um custo de R$ 21 bilhões, incluindo penalidades pela rescisão de contratos e cancelamento de financiamentos subsidiados. No entanto, o Ministério da Fazenda simulou um cenário em que o custo total poderia chegar a R$ 30 bilhões, alertando que a energia gerada pela usina poderia resultar em tarifas de eletricidade mais altas.
Raul Lycurgo Leite, presidente da Eletronuclear e defensor do projeto, afirmou que sua equipe planeja levantar a maior parte do financiamento necessário no mercado e destacou que a manutenção da usina inacabada custa mais de R$ 1 bilhão por ano. Ele acredita que o pior tipo de projeto de infraestrutura é aquele que fica parado.